segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Museologia de Interpretação da Paisagem - Ecomuseu dos Biscoitos, da Ilha Terceira

Por: Fernando Santos Pessoa *


“Sou um entusiasta da ecologia, porque ela permite envolver o visitante na globalidade da realidade natural - cultural e veio dar ao museu uma dimensão e uma aproximação das pessoas, que lhe faltava até aí. Aliás, quem teve, como eu, o privilegio de conhecer e conviver com George Henri Rivière, ficava certamente contagiado com a sua vivacidade, a sua utopia, com o encanto que emanava da sua conversação, direi mesmo, com sabedoria que 80 anos de uma vida culturalmente riquíssima foi capaz de sedimentar.
Já foram por demais debatidos os conceitos, as práticas, as contradições e o futuro dessa nova museologia que, a partir do final da década de 60 começou a animar o panorama museológico europeu, e não me vou envolver nesse caminho.
Nada que o homem faça será alguma vez completamente perfeito, o que importa é que os resultados sejam maioritariamente proveitosos.
Desde 1979 que lutei, em vão, pela implantação de ecomuseus, em especial na Serra da estrela, porque estava convencido que possuíamos nessa altura as condições sociológicas e culturais para implementar essas instituições.
Mas em 1994, ao ser-me pedido que elaborasse uma proposta para um sistema museológico das áreas protegidas portuguesas, com base nos pressupostos da ecomuseologia, defendi que nessa altura já a designação original de ecomuseu estava desfasada, na generalidade, porque se tinha alterado a situação das populações e das suas regiões, é que uma das características mais relevantes do ecomuseu era a participação activa e permanente das pessoas na animação e gestão dos seus museus que traduziam a vivência e o ambiente no Tempo e no Espaço.
Não sei se ainda hoje é como eu conheci, mas, a título de exemplo, há poucos anos no Ecomuseu do Baixo Sena, numa antiga padaria de uma aldeia que era um pólo do museu, o padeiro continuava a fabricar o magnifico pão caseiro, e servia de interlocutor aos visitantes, falando-lhes das técnicas e da tradição da panificação das histórias da aldeia, da sua própria vida local.
Este era o ecomuseu que GHR sonhara.
Só que as sociedades evoluíram, os pressupostos das economias regionais transformaram-se, a massificação da Cultura atingiu todos os recantos dos territórios, e em Portugal de 1994, salvo um ou outro caso pontual, já não era possível encontrar populações, mesmo rurais, motivadas para animarem um ecomuseu.
Mas, tirando esse aspecto, a dinâmica, as estruturas e as técnicas de exploração de ecomuseologia continuavam pertinentes e actuais.
Daí que tenha proposto que os museus a criar na maioria das Áreas Protegidas, como os parques naturais, ou mesmo fora deles, já não se designasse ecomuseus, que me pareceria impróprio e abusivo, excepto num caso onde existia ainda uma dinâmica forte das populações, e adoptassem outra designação – a de museus de interpretação da paisagem.
E passo a explicar “sucintamente em que me baseei para essa proposta.

* Engenheiro Silvicultor e Arquitecto Paisagista

(continua)


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