quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Candelária - Um vinho digno da mesa do Rei



Por: Valdemar Mota

Há já algum tempo que o meu particular amigo Jácome de Bruges Bettencourt me vem falando em eu alinhavar umas notas sobre a Quinta da Candelária, situada extra muros de Angra, na freguesia de São Mateus da Calheta, antiga propriedade morgadia dos Merens de Távora, e, também, sobre o vinho que, na mesma, era produzido. E tudo isto com base e ponto de partida em um velho rótulo de que há, pelo menos, dois exemplares conhecidos, um na minha posse que até hoje nunca o encontrei e o outro em mão do nosso comum amigo Dr. Jorge Pamplona Forjaz, que também andava perdido, mas que acabou por aparecer e é desse que me sirvo para as notas que aqui vão neste breve escrito.

Ora, o precioso rótulo tem no canto superior esquerdo o brasão da família proprietária da Quinta, encimado por uma coroa de nobreza e sem figuração do timbre. No sentido obliquo a palavra CANDELÁRIA e logo a baixo TINTO Ilha Terceira (Açores), manuscritamente uma data a lápis, a de 1896, indicando que o tinto utilizado na garrafa era da colheita daquele ano, velhinho, ao menos o rótulo, de 106 anos. Foi assim desta antiga Quinta que saiu o apreciado vinho que haveria de ser distinguido e honrado à mesa de D. Carlos e D. Amélia, na celebrada visita histórica aos Açores, em 1901, de cuja ementa constou, com mais indicação de ser da Família Merens de Távora (*). Um néctar terceirense que terá agradado à ilustre comitiva e a quantos tiveram assento na mesa real.

Durante várias gerações os Senhores da Candelária ali produziam e desenvolveram frutas e vinhas e outros plantios, alguns deles exóticos, a título de experiencia a testar a adaptação do solo a espécies pouco comuns nos Açores, como as árvores de cortiça e os cafeeiros, de que cheguei a empacotar a pedido do procurador e a remeter para Lisboa o precioso grão, destinado a matar saudades aos descendentes da Quinta radicados na capital portuguesa.

Quem eram os Merens de Távora, família antiga da Terceira?

Refiram-se apenas as últimas dessas personalidades, aquelas que a meu ver integram o período aqui tratado: - Luís Meireles do Canto e Castro, nasceu a 16. 5.1785 e faleceu a 19.5.1854, tinha o foro de fidalgo-cavaleiro da Casa real, da Ordem de N.ª Sr.ª da Conceição de Vila Viçosa, capitão de ordenanças, partidário h politico de D. Miguel e membro do governo absoluto, vereador da Câmara de Angra, sr. E herd. da casa de seus maiores, casado com D. Francisca Paula Merens de Noronha e Távora, pais de sete filhos e filhas, entre os quais Luís Meireles do Canto e Castro Merens de Távora, nascido em Angra a 31. 1.1816 e falecido em Algés a 31. 7. 1876, educado no Colégio dos Nobres, fidalgo da C.R., sr. Herdeiro da Quinta cuja capela reedificou sob a invocação de N.ª Sr.ª da Candelária (**), casado primeira vez com D. Emília Clara Borges Teixeira de Araújo e Azevedo e segunda com D. Maria do Amparo Ferreira, natural de Angra., havendo do primeiro consórcio, entre outros, um filho de nome Luís do canto e Castro Merens de Távora, nascido em Lisboa a 26.6.1848, fidalgo cav. Da C.R., conselheiro, engenheiro, governador civil do Funchal, exercendo funções de director de Obras Publicas em Angra do Heroísmo, Ponta Delgada, Beja e Évora, vindo a falecer solteiro deixando, porém, este um filho natural que perfilhou em 1907 com o nome de Raul de Távora e Araújo Meireles do Canto e Castro, alferes de cavalaria, nascido a 5.2.1886 em Lisboa e casado com D. Amélia Pereira de Vasconcelos, filha de Frederico Augusto de Vasconcelos e de D. Georgina Lery Pereira, cuja representação está hoje no filho, casado, residente na capital lisboeta, sr,. Nuno Maria do Canto e Castro Merens de Távora (***) que, se não é já proprietário da Quinta da Candelária por, entretanto, ter sido vendida, detém ainda em posse outra propriedade não menos importante, a Quinta do Senhor Bom Jesus da Salga, em poder da família há perto de quinhentos anos.

(*) In Verdelho - Boletim da Confraria do Vinho Verdelho dos Biscoitos, ilha Terceira, Açores, ano VI, nº 6. 2001
(**) Esta capela teve duas invocações, a se N.ª Sr.ª das candeias e em época mais recuada a de N.ª Sr.ª de Guadalupe.
(***) Informação de Eduardo de campos Azevedo Soares (Carcavelos), in N.I.T. vols II e III

(continua)


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