sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

O Verdelho dos Biscoitos e a sua técnica cultural (2)




Por: João Madruga*

(continuação do anterior)

SISTEMA DE CULTURA TRADICIONAL


A vinha ocupa os solos com fraca aptidão cultural, sendo na sua maioria Litossolos e Solos Litólicos, caracterizados por serem solos pouco espessos, com reduzida capacidade de retenção de humidade, derivados da alteração de materiais consolidados, em especial materiais escoreáceos e derrames lávicos.

Quando os solos são pouco evoluídos (Litossolos), abrem-se covas nas fendas dos derrames lávicos, covas estas onde se procede à plantação dos bacelos. Nos solos mais evoluídos (Solos Litólicos), a sua elevada pedregosidade dificulta as surribas, ou viradas, as quais são feitas durante o Inverno, a uma profundidade que varia entre os 0,60m e 1m, operação esta que está praticamente a ser abandonada.

Na zona dos «Biscoitos» recorreu-se, também, ao uso de solos mais evoluídos, aos quais após a sua cobertura com material pedregoso (empedramento), numa espessura variável entre os 20 e os 50cm, se faz a plantação dos bacelos em caldeiras ou covas de forma circular, com diâmetro médio à volta dos 70cm. A época de plantação vai desde Novembro até Março, sendo os bacelos plantados preferencialmente do lado Norte da cova. O compasso de plantação é algo irregular apresentando, contudo, uma geometria dominante.


O sistema de condução mais usado neste tipo de vinha é em forma livre, com um tronco curto, (20 a 30cm), cujos braços, em número variável, se encontram distribuídos em todos os sentidos sobre o empedrado. Aplica-se a técnica de poda em vara e talão.
Este tipo de viticultura enquadra-se na concepção do tipo grego (Castro, 1989), caracterizada por "vinha baixa com as cepas livres" com grande intervenção humana, especialmente na colocação de "estacas", "tinchão" ou mesmo pedras, com a finalidade de proceder ao levantamento das varas em produção.

Os terrenos de vinhas, formados por uma ou mais parcelas, são divididas no sentido do seu maior comprimento em «tornas», e estas subdivididas em curraletas, ou currais. As delimitações entre parcelas, tornas e curraletas são feitas à base de muros de pedra (as «travessas»), com espessura variável em função da quantidade e qualidade da pedra disponível. Como se pode compreender, este sistema cultural recorre ao uso de muita mão-de-obra, sendo difícil, ou quase impossível, a sua mecanização. Cada curraleta comporta um número variável de cepas, número este que é condicionado pela respectiva área e fisiografia. A vinha fica como que "enterrada" na curraleta, ao abrigo dos ventos marítimos, principalmente graças ao efeito das travessas (Amaral, 1994).


Uvas sobre biscoitos de lava

Como já foi anteriormente referido no respeitante aos solos, as curraletas, quando pedologicamente não são constituídas por Litossolos ou Solos Litólicos, são geralmente cobertas com material pedregoso, cujo objectivo se prende, não só com a arrumação da pedra, mas sobretudo com a finalidade de proporcionar um microclima, mais favorável.
Segundo Brum, (1994), a pedra sobrante das viradas era muitas vezes colocada em torreões, que serviam para o feitor, ou o homem mais experiente, controlar melhor os trabalhos culturais.

Referências Bibliográficas:

Amaral, J. D. (1994) – O Grande Livro do Vinho. Edição Círculo dos Leitores, 415 p.
Brum. L.M.M. (1994) – Comunicação apresentada no 1º Encontro das Instituições Museologias dos Açores. Ponta Delgada. Março.
Castro, R. (1989) – Sistemas de condução da vinha. Evolução, tendências actuais e estudos a decorrer em Portugal. Ciência Téc. Vitiv. 8 (1-2) : 37-54.
Champagnol, F. (1984) – Physiologie de la Vigne et de Viticulture Generale 331 p. 

* Professor do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores e Vice Grão-mestre da Confraria do Vinho Verdelho dos Biscoitos

In Revista Verdelho  n.º 1 – ano 1996 – órgão informativo e cultural da Confraria do Vinho Verdelho dos Biscoitos



Outros :

Os Biscoitos : História e Origem (1482 - 1556) aqui 

Planta da Freguesia dos Biscoitos (ano 1830) aqui

Plantas Vasculares nas Vinhas dos Biscoitos (ano 1971) aqui.

"A vinha perde-se e a população nada ganha" (ano 1994) aqui.

"Região de Biscoitos, nos Açores - Casas em vez de vinhas" - Santos Mota (ano 1994) - aqui.

"Biscoitos: que futuro? "-José Aurélio Almeida (ano 1996) - aqui.

"As Vinha dos Biscoitos" -Bailinho de Carnaval da Freguesia das Fontinhas. (ano 1997) aqui.

"Uma virada nos Biscoitos"(Açores)- (ano 1998) aqui.

"Os Biscoitos, as vinhas e o desenvolvimento rural" - Joaquim Pires (ano 1998) aqui.

O viticultor açoriano está envelhecido (ano 1998/99) aqui

“Provedor de Justiça dá razão à Confraria” (ano 1999) aqui.

“Museologia de Interpretação da Paisagem Ecomuseu dos Biscoitos, da ilha Terceira” - por Fernando Santos Pessoa (ano de 2001) aqui.

"Carta de risco geológico da Terceira" (ano ano 2001) aqui.

"Paisagem Báquica - Memória e Identidade" - Aurora Carapinha (ano 2001) aqui.

“A Paisagem Açoriana dos Biscoitos” - por Gonçalo Ribeiro Telles (ano 2002) aqui.

"Fadiga sensorial" (ano 2007) aqui.

"Defender curraletas!" (ano 2007) aqui.

"Rememorando as origens dos Biscoitos nos séculos XV e XVI"- por Rute Dias Gregório (ano 2008) aquiaqui e aqui.


“A Vinha, o Vinho dos Biscoitos e o Turismo” - por Margarida Pessoa Pires (ano 2009) aqui.


(continua)

1 comentário:

Augusto Branco disse...

SER MULHER

Ah, ser mulher!

Ser mulher é ver o mundo com doçura,
É admirar a beleza da vida com romantismo.
É desejar o indesejável.
É buscar o impossível.

O poder de uma mulher está em seu instinto
Porque a mulher tem o dom de ter um filho,
E cuidar de vários outros filhos que não são seus.

Ah, as mulheres!
Ainda que sensíveis
Mulheres conseguem ser extremamente fortes
Mesmo quando todos pensam que não há mais forças.

Mulheres cuidam de feridas e feridos
E sabem que um beijo e um abraço
Podem salvar uma vida,
Ou curar um coração partido.

Mulheres são vaidosas,
Mas não deixam que suas vaidades
Suplantem seus ideais.

Muitas mulheres mudaram o rumo
E a história da humanidade
Transformando o mundo
Em um lugar melhor.

A mulher tem a graça de tornar a vida alegre e colorida,
E ela pode fazer tudo isto quantas vezes quiser
Ser mulher é gostar de ser mulher
E ser indiscutivelmente feliz
E orgulhosa por isso.

- Brunna Paese -