terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

"Um optimismo moderado”


Dias Cardoso manifestou um certo optimismo sobre a vitivinicultura dos Açores, particularmente por ter sido possível lançar no ano findo um novo produto, o “Terras de Lava”, esperando-se que a colheita de 1994 tenha êxito idêntico. 

“Falta agora lançar um tinto, alternativo ao “vinho de cheiro”, acrescentou –, “que é o grande problema com que os Açores se debatem e que tem de ser erradicado em prazo relativamente curto. Só que temos de ser realistas, pois a verdade é que a viticultura açoriana ainda repousa sobre essa produção e não deixará de repousar enquanto não houver um vinho alternativo”.

Para dias Cardoso, “também o tradicional verdelho, está a mudar de figura, na medida em que vinhos muito oxidados, envelhecidos em más condições, mal conservados, estão a dar lugar a um verdelho com outras características, respondendo já ao estilo actual de vinho, bem conservado, correctamente conservado, com baixa acidez volátil. Mas só daqui a três anos saberemos, na verdade, como é que o mercado responde ao verdelho feito noutras condições”.

O optimismo de Dias Cardoso é por isso moderado, mas está convencido que se encontrou uma via para fugir da situação extremamente crítica em que se encontrava a vitivinicultura do Pico. De resto, a própria Cooperativa Vitivinícola da Ilha do Pico vive mais desafogada. A reconversão vitícola está a fazer-se dentro de alguns anos é provável que seja tanta ou maior a produção de vinho de castas europeias do que a de produtor directo, em reconversão, embora se trate de um processo de transição relativamente mais lento do que se desejaria.

É que, na base desta situação está um problema de cultura e mentalidades, extremamente difícil de alterar. Segundo Dias Cardoso, há um profundo enraizamento de gosto regional pelo vinho “americano”. E ninguém acredita nos comprovados efeitos nocivos que este produto pode acarretar para o organismo humano, estando a maior parte das pessoas convencidas que o “vinho de cheiro” é que é o produto de qualidade.

Diz Dias Cardoso. “Estas coisas vão-se mudando à medida que as pessoas alargam os seus horizontes e que conhecem outras realidades e também à medida que as gerações se vão renovando. Existem nos Açores muitos restaurantes com vinhos de qualidade e há cartas de vinhos muito razoáveis, fazendo-nos supor o seu consumo, pelo que, paulatinamente, se vai criando outro gosto”.

In Revista de Vinhos, Agosto de 1995

Sem comentários: