terça-feira, 29 de março de 2011

Pelos caminhos da Ilha Terceira



De 30 de Março (amanhã) a 3 de Abril os Romeiros do Santuário de N.ª S.ª da Conceição voltam a percorrer estradas, canadas e trilhos da ilha Terceira.


O que faz caminhar o Romeiro?

"Uma Romaria não é tarefa fácil até pelo contrário é difícil, e penosa mesmo. Então se é assim tão draconiana porque a repetem todos os anos? Boa pergunta, pensarão… Não se trata de um passeio em redor da Ilha, mas de um verdadeiro retiro em movimento, contra os elementos quer sejam favoráveis ou não, chovendo ou fazendo nevoeiro ou sol calmo ou abrasador o caminho é seguir em frente orando incessantemente sem despudor nem respeito humano porque, orando se aprende a orar, como numa oficina. A oração, é a alavanca da Romaria, quer recitada, quer cantada, é ela que nos dá ânimo a continuarmos quando muitas vezes o corpo clama por repouso, mas há que continuar sem desfalecimentos porque mais à frente está o que buscamos apesar da dor, desconforto, cansaço, exaustão. O primeiro dia é o mais fácil mas mesmo assim calcorreamos cerca de 60 quilómetros pelas estradas da nossa Ilha, subindo e descendo em busca do Senhor porque a Romaria é encontro marcado com Ele que se manifesta de maneiras diferentes para cada um de nós. A razão mais importante da caminhada incessante é o encontro com Jesus – é a razão única. E como se dá esse encontro? De muitas maneiras e de diferentes modos para cada irmão Romeiro. Ele vai-se tornando visível á medida do aumento do sofrimento, caminhando penosamente mas alegremente ao Seu encontro. Há medida que os pés e as pernas forem inchando com a inclemente caminhada, quando do aparecimento das primeiras “bolhas” e a cevadeira se torna demasiado pesada qual cruz em direcção ao Calvário aí ele aparece-nos no rosto de cada Irmão e que satisfação e alegria. E como é que Ele nos aparece perguntarão? À medida que os quilómetros forem passando sob os nossos pés tornamo-nos mais sensíveis que nunca, pequenas coisas que nos passam despercebidas no dia-a-dia tornam-se de uma importância vital mesmo transcendente. São centenas de pessoas que se abeiram de nós nos caminhos da nossa terra, corações empedernidos que ao nos verem passar se comovem até às lágrimas pedindo orações para as suas aflições porque vêm-nos homens penitentes em oração. A Sagrada Escritura diz-nos que nos pobres devemos reconhecer os traços do Cristo Sofredor. A Cristo não se vê, mas quem vê uma pessoa aflita vê Cristo, ou seja o pobre é o “lugar” onde resplandece o rosto de quem procuramos - o Senhor. ü As crianças que se abeiram de nós muitas delas fruto duma desorganização moral e familiar. São o rosto do Senhor; ü Os jovens desorientados por não encontrarem lugar na sociedade, frustrados pela falta de emprego. São o rosto do Senhor ü Os trabalhadores rurais, frequentemente mal pagos e com dificuldades em defender os seus direitos. São o rosto do Senhor ü Os desempregados, despedidos pelos frios cálculos económicos. São o rosto do Senhor ü Os idosos, cada dia mais numerosos, marginalizados pela sociedade porque já não produzem. São o rosto do Senhor ü Os esquecidos, abandonados, marginalizados, fracassados, órfãos e todos os necessitados. São o rosto do Senhor É na Romaria que se vê o verdadeiro rosto do Senhor porque estamos mais atentos e sensíveis. Os seus traços começam a tomar forma ao fim do 3º dia a partir daí tudo está mais fácil porque visivelmente acompanha-nos em cada Irmão Romeiro até ao Santuário de sua Mãe Santíssima que nos viu partir cheia de esperança. 

João Dinis
In Romeiros do Santuário de Nossa Senhora da Conceição


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