terça-feira, 12 de julho de 2011

A Cor do Vinho da Última Ceia (7)


Angra do Heroísmo, 20.11.1999- Investidura do Dr. Mário D'Oliveira Figueiredo na Confraria do Vinho de Verdelho dos Biscoitos

A VINIFICAÇÃO ENTRE OS ROMANOS

Por: Oliveira Figueiredo*

Como era feita a vinificação noutros povos contemporâneos, nomeadamente os Romanos com tão estreitas ligações com a Palestina?

Para André Tchernia (La Vinification desRomains em Le Vin des Histoirens) e pelo que a Itália diz respeito, entre os Romanos só se vinificava em branco. Nenhum texto mencionava a curtimenta e evitavam-se mesmo, quanto possível, as videiras de uvas tintas (Columella, III, 20; Paliadus, 1, VI). Todas as grandes colheitas italianas mencionadas por estes autores são de vinhos brancos são de vinhos brancos. Todavia, algumas ânforas trazem a indicação de VINUM RUBRUM e noutras conservavam-se resíduos de vinho cujo, aspecto e análises efectuadas confirmam a cor tinta. A explicação “não inteiramente satisfatória” desta excepção, dada por R. Billiard é que “o processo utilizado vulgarmente equivalia a uma verdadeira curtimenta”. Em apoio da sua tese invoca a lentidão e demora da prensagem e a passagem de algumas películas para os dolis onde o vinho fermentava.

A. Tchernia admite que assim fosse, mas para fazer o rosé, pois existia o rubeilum, nunca para fazer vinho tinto.

Para este autor, é mais aceitável a explicação que lhe deu Denis Dubourdieu: se fazia muito calor, os alvéolos das películas das uvas que contém as antocianinas, tornam-se porosos. Estes passam para o exterior e o fenómeno é acentuado pelo esmagamento das uvas. É este modo que pode haver nos países meridionais tintos sem curtimenta.

O vinho era, praticamente, todo de lágrima. E os antigos distinguiam este vinho de lágrima ou must lixivum, obtido antes da prensagem, e o seguinte. A expressão é utilizada a propósito da fabricação do vinho doce, a partir de uvas muito maduras e expostas ao sol durante alguns dias. Diz Columella: “ Ao quarto dia ao meio-dia, pisem-se os cachos, ainda quentes e recolha-se o mosto da lágrima ou seja aquele que escorreu para o balseiro antes das uvas terem sido metidas na prensa”.

 Quanto ao modo de esmagar as uvas, primeiro pisando-as a pés, em lagares iguais aos dos Judeus, depois, utilizando uma prensa para aproveitar o mosto que tivesse ficado no engaço e nas peles, como se lê em Varron (Res Rústica, I, 54).

Sem pretender resolver definitivamente a questão, eu concluiria, por tudo quanto acima ficou dito, que o vinho da última ceia de Jesus Cristo, quanto muito seria um ligeiro rosado.



Mário Manuel D’Oliveira Figueiredo. Jornalista. 
Começou como editorialista, em “O Comércio do Porto” e “Novidades”. De 1967 a 1992 foi ininterruptamente, jornalista parlamentar (Assembleia da República). “Novidades”. “A Capital” e “Diário de Notícias”.

Licenciado em jornalismo, licenciado e curso de doutoramento em Ciências Sociais, pós- graduação em Psicologia (Escola de San Bernardo – Madrid).

Fundador e Grão-mestre da Confraria dos Jornalistas Enófilos, Cavaleiro da Ordem Enófila de Santiago e Confraria do Vinho Verde, membro da Confraria dos Enófilos da Bairrada e da LASVIN -Liga dos Amigos da Saúde e do Vinho.

Provador, com cursos oficiais, tem feito parte dos júris de vários concursos de vinhos.
Presentemente escreve uma página semanal no “Diário de Noticias” (suplemento CNA) e colabora noutras publicações.

*Palestra proferida na Festa da Vinha e do Vinho dos Biscoitos -  Ilha Terceira – Açores. 4 de Setembro de 1998.
  Publicado no conceituado jornal açoriano “A União” no dia 5 de Setembro de 1998

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