quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Falando de Vinho e de Saúde (3)



Por: Jack Masquelier

Experiências terapêuticas levadas a cabo no homem resultaram em frustração: um medicamento à base de epicatequina tem de ser retirado do mercado devido à sua instabilidade. Mais recentemente, uma nova experiencia com catequina não resultou: conseguiu-se tornar o produto estável, mas a má solvabilidade do princípio activo provoca a formação de cálculos renais inaceitáveis. A descoberta de LAVOLLAY estaria condenada ao esquecimento?

No caminho da descoberta, o investigador tropeça em muitos impasses e alguns podem ser-lhe fatais. A história da vitamina P ilustra esta afirmação, SZENTGYORGYI esbarra num impasse quando escolhe a citrina como padrão. A casca de citrinos não é a parte comestível desses frutos. Ora, uma vitamina tem forçosamente de se consumir. LAVOLLAY, com a epicatequina entra num impasse. Esta molécula provém da madeira de diversas acácias da Índias e não é mais do que um artefacto devido ao processo local de extracção. As suas experiencias sobre o vinho tinto irão pô-lo no caminho certo? Infelizmente o seu teste para identificar a epicatequina reage também com os O.P.C. cuja existência ele ignora. Deste modo, não pode atribuir confiança senão a um constituinte improvável e frágil. 

Ao caracterizar os O.P.C. no vinho, pude evitar esses erros.

No decurso dos 10 anos que separam da descoberta de LAVOLLAY, eu tinha introduzido em terapêutica dois medicamentos vásculo–protectores à base de O.P.C. retirados de outros vegetais. Pareceu-me, pois evidente que a cobaia de 1944 tinha reagido aos O.P.C. do vinho. Faltava ainda afinar os conhecimentos sobre o mecanismo desta espantosa actividade. Vinte anos de investigação foram-lhe consagrados.

MECANISMO DO EFEITO VASCULAR

O exame ao microscópio electrónico de um capilar sanguíneo cuja ruptura se acaba de provocar leva a compreender em que consiste o efeito protector vascular dos O.P.C. do vinho. Pela brecha entreaberta, podemos ver os elementos do sangue: hemácias, glóbulos brancos, plaquetas envolvidas da parede feita de uma única fileira de células. No exterior, à volta da lesão, fibras de cologénio em desordem testemunham o estrago sofrido aquando da medida da R.C. Como é de costume, o cologénio serve de tecido de embalagem dando ao mesmo tempo leveza e resistência, ao minúsculo vaso. É precisamente pela sua acção sobre o cologénio que os O.P.C. exercem o seu papel protector. Este exprime-se quer de imediato quer a prazo.

O efeito imediato traduz-se por uma subida da R.C. na hora imediata. Num tão curto espaço de tempo não se pode contar com a criação de um cologénio novo, mas de preferência sobre a consolidação daquele já estabelecido. A afinidade dos O.P.C. para as proteínas entra então em jogo. Ela permite a sua intervenção rápida e distingue-os das outras moléculas já citadas, segundo a progressão seguinte:

Resveratrol -0
Quercetol – 0

Conhece-se o sítio da fixação das O.P.C. sobre as proteínas é a prolina, ácido aminado que abunda no cologénio. Este acolhimento da prolina permite então a junção dos O.P.C. sobre as cadeias peptídicas do cologénio. Acontece que o espaço que separa duas cadeias corresponde à acumulação das moléculas do O.P.C. Imaginemos uma escala que perdeu uma boa parte das suas barras: nenhuma barra de madeira pode assegurar a a separação Por isso, é preciso respeitar o afastamento dos dois montantes bem como a forma dos encaixes. Os O.P.C. preenchem as duas condições para estabelecer rapidamente a ligação voltando a dar às fibras a sua solidez perdida.

A ACÇÃO A PRAZO

Ela começa imediatamente, mas o seu efeito nota-se mais tarde, porque se trata de uma síntese acrescida de cologénio novo. Os O.P.C. intervêm a dois níveis:

 - Como factores da vitamina C. No estado inicial, a síntese do cologénio exige que os ácidos aminados prolina e lisina sejam hidrolizados antes de ser incorporados. A vitamina C participa desta hidrolização. A sua carência bloqueia a síntese, o que provoca o escorbuto com o desfazer do R. C. Tudo o que ajuda a vitamina C favorece em contrapartida a formação de cologénio novo. Está demonstrado que, no organismo vivo, o poder antioxidante elevado dos O.P.C. assume um tal papel: são considerados como factores como co-factores do ácido ascórbico.
- Como inibidores de enzimas: fibras de cologénio tratadas pelos O.P.C. ou pelo vinho tinto resistem às colagenases, enzimas destruidoras do tecido conjuntivo. A esse nível, o rendimento da síntese melhora de maneira indirecta, pelo prolongamento da duração de vida do cologénio.

Sabemos agora que as cobaias de LAVOLLAY reagiam aos O.P.C. do vinho tinto e de que maneira a sua parede vascular recuperava o seu bom estado funcional.

VINHO E RADICAIS LIVRES

Em 1985, um novo e importante capítulo abriu-se na história das propriedades higiénicas do vinho. É o pôr em evidência do efeito – cilada dos O.P.C. sobre os radicais livres oxigenados (R.L.O.). Pressentindo a importância desta descoberta, um pedido de brevet foi feito esse ano aos Estados Unidos. O brevet 4698360 foi-me concebido no dia 6 de Outubro de 1987.

O que vem de seguida descreve todas as consequências que esta descoberta implica sobre o bem-estar daqueles que consomem o vinho de maneira habitual e em quantidades moderada. Mas o que são esses radicais livres de que toda a gente fala hoje em dia?

Continua

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