domingo, 18 de dezembro de 2011

"Razão de ser"



«Pretendia a Comissão do Império do Outeiro deixar bem vincada, neste 2.º Centenário da erupção vulcânica que fez “rebentar o fogo” entre o Pico e a Serra, a milagrosa intervenção da “sua” coroa que, conduzida então processionalmente até junto das lavas candentes, foi a primeira a chegar e com cuja presença logo a fúria eruptivas se aplacaram, parando as de correr. Conhecedor deste facto incontroverso, el-Rei D. José I mandou publicar um Alvará, determinando que “à Coroa do Império do Outeiro da Cidade de Angra fosse dada a primazia” sempre que conduzida com outras em cortejo.

Por dois modos desejou e vai tentar fazê-lo: Primeiro, reunindo na noite de 15 do corrente, no sue Império, todas as Coroas que as Irmandades ali façam conduzir, para que, rezado o terço em conjunto, todos agradeçam a Deus o milagre de há precisamente 200 anos e renovem, na evocação do Espírito Santo, os votos, sem desfalecimento feitos através dos tempos, para que a protecção divina se estenda sobre as nossas terras e a nossa gente, preservando-as dos castigos que flagelam o mundo e são fruto da impiedade e ingratidão dos homens; Segundo, reatando um propósito que vem já de trinta anos atrás, de fixar na Imprensa certos aspectos da vida terceirense – muitos dos quais, mercê cada vez mais rápida evolução do mundo, hoje mais que nunca tumultuosa, vão perdendo características essenciais, desvirtuando-os na sua essência e no seu real valor – fazer publicar um número especial evocativo das Festividades do Espírito Santo.

Em 1933, no “Jornal de Angra”, fundado por João Ilhéu, num número especial que Maduro Dias dirigiu e foi dedicado ao Espírito Santo, dizia-se na “Razão de Ser”: “É este o primeiro duma série de números em que penso chamar a atenção para certos aspectos da vida terceirense, como o têm feito já alguns dos mais altos espíritos açorianos. Quase todas as nossas datas gloriosas, boas ou más, têm sido lembradas, mas, a par destas, outras há, de modo igual, merecedoras de cuidados, e estas são as dos trabalhos e festas populares de cujo estudo e aproveitamento se pode tirar, a favor da terra, acentuado progresso nos métodos aplicados às artes e ofícios, propaganda turística, larga folha de dados para estudos etnográficos e de carácter social e, ainda, outras coisas que os ausentes destas terra, que são muitos, muito bem sabem apreciar e valorizar. Por sorte abre a série a festa do Espírito Santo. Para estes festejos concorrem as mais antigas usanças terceirenses, trazendo gostosos costumes – vivo e ainda pouco explorado veio para estudiosos. Dado o seu carácter típico, outros não há que melhor agucem o desejo de ser vistos. Finalmente, mais nenhuns conheço tão cheios de cores e modos inspiradores. E neste passo, aos espíritos exigentes para quem um jantar de “função” é pantaguélico, e uma tourada, terço ou coroação do campo, é despiciendo espectáculo, a esses lembro uma coração da cidade”. – (ass.) Maduro Dias”.
Eis pois, a “razão de ser” deste número que “irmãos” e amigos ajudaram a compor.»

A Comissão do Império do Outeiro

In Tradição Popular – Edição do Império do Outeiro -  8 de Abril de 1961.


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