quinta-feira, 10 de julho de 2008

Fertilidade das terras

É difícil o solo que dispõe dum conjunto de condições apropriadas ao desenvolvimento normal das plantas permitindo-lhes produzir abundantes colheitas.
As características da fertilidade são de ordem física, química e biológica.

Exercem ao mesmo tempo uma acção importantíssima: o clima, a latitude, a altitude e a orientação dos solos.

Sob o ponto de vista físico o solo deve ser permeável, imóvel, profundo e contínuo. Quanto à sua constituição química, necessita conter em proporções convenientes os quatro
elementos nobres, a saber: azote, ácido fosfórico, potassa e cal.
Debaixo do ponto visto biológico, deve ser rico em microrganismos, tais como os fermentos nitratos e nítricos, bactérias das nodosidades das
leguminosas, micróbios fixadores de azote, etc.

As terras que reúnem todas estas condições são
naturalmente férteis.

Todavia a fertilidade pode ser adquirida: pela acção contínua e inteligente do homem
.
É este o ponto que agora nos interessa e vamos abordar tendo em vista especialmente os solos da ilha Terceira.

Possui a Terceira, assim como outras ilhas do arquipélago, terrenos fertilíssimos, basta lembrarmo-nos que há terras produzindo milho há séculos, quase continuamente, pois raras vezes nestes solos mais ricos este cereal alterna com o trigo.

Recebem estes terrenos geralmente por única adubação o tremoço ou outras leguminosas forraginosas, servindo para a alimentação do gado e deixando apenas à terra alguns talos e as raízes.
A par destas terras privilegiadas outras há mais fracas, mas sendo cuidadosamente tratadas podem produzir também óptimas colheitas.

Sendo uma das características da fertilidade a profundidade do solo, podem
os com facilidade melhorar a maior parte das nossas terras do litoral e ainda algumas da zona média pelo emprego de instrumentos aratórios mais aperfeiçoados que permitem ir a pouco e pouco mobilizando as camadas profundas, tornando-as mais aptas à vida dos microrganismos úteis e ao mesmo tempo oferecendo às plantas um maior cubo de terra rica em elementos nobres, e ainda uma maior reserva de água, pois quanto maior for a camada de terra mobilizada, maior será a quantidade de água armazenada que fica à disposição das colheitas.

Convém observar que nem sempre se deve profundar a lavoura, é o caso da maior parte das nossas pastagens altas, cujos subsolos são constituídos por “bagacinas” (escórias vulcânicas ou “lapilli”) absolutamente estéreis. Uma vez trazidas à superfície pela charrua em nada melhora a produção e tornam estes terrenos extremamente dissecáveis no verão.
De todos os meios que o homem dispõe para melhorar a terra o mais simples e económico consiste no adicionamento ao solo das matérias fertilizantes que lhes faltam para se poder atingir as grandes produções.
A maior parte dos solos da Terceira são pobres em ácido fosfórico e extremamente pobres em cal, impõe-se portanto a aplicação de adubos que contenham este elementos.
Dos adubos fosfatados dou preferência ao fosfato Tomás, tendo em vista não só a sua elevada percentagem em cal, mas também porque sendo os nossos solos muito ricos em ferro, não há perigo de se obter compostos insolúveis com o fosfato Thomás, visto o ácido fosfórico achar-se aqui no estado de fosfato tetracaldico.

Grandes vantagens adiriam para os nossos lavradores se pelo menos de três em três anos lançassem à terra por ocasião das atremoçaduras uma boa dose deste adubo.
Quanto às pastagens devido principalmente à sua grande acidez e cansaço, impõe-se absolutamente a adubação, sob pena de vermos em poucos anos diminuída a criação do gado, que é e será sempre a maior fonte de riqueza da ilha Terceira.
De que fica dito conclui-se que dentro de certos limites sempre possível tornar férteis terrenos que à primeira vista parecem improdutivos.
O amanho cuidadoso e inteligente das terras e as adubações convenientes fazem verdadeiros milagres se ao mesmo tempo soubermos escolher as melhores culturas em face do clima, das qualidades físicas e da constituição química da terra em questão.

Angra do Heroísmo (Açores)
Outubro de 1925
Jácome D’Ornelas Bruges
Eng. Agrónomo

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