sábado, 13 de setembro de 2008

"Remomerando as origens dos Biscoitos nos séculos XV a XVI" (1)


Rute Dias Gregório *

A formação dos primeiros assentamentos humanos no espaço onde veio a constituir-se e a organizar-se a freguesia dos Biscoitos será, porventura, senão a mais remotamente documentada por escrito, pelo menos uma das mais bem traduzidas de forma provada e coetânea nos Açores.

Deve-se isto, sem dúvida, ao cartório de uma casa nobre das ilhas, a dos Canto, que conseguiu preservar considerável espólio para o estudo dos séculos XV a XIX do arquipélago e, ainda, teve a imensa fortuna de poder estar sob a guarda e estudo de Ernesto do Canto até à sua morte em Agosto de 1900. Posteriormente, por vontade expressa pelo seu detentor em testamento, passou a domínio público por legado à Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada.

Esta série documental, ao contrário do que se pensa, não esteve sempre nos Açores. Antes de 1893, ano em que o respectivo envio faseado a Ernesto do Canto se inicia, os documentos encontravam-se na Foz do Douro, no Porto, na casa dos herdeiros das linhas sucessórias de dois dos filhos de Pero Anes do Canto, a saber, António Pires do Canto e João da Silva. Por pura sorte, coincidência e espírito avisado de Eduardo Abreu, membro do Directório do Partido Republicano Português e Deputado da Nação 1), foi salvo do fogo que extinguia os desperdícios da casa do então falecido Miguel do Canto e Castro (último morgado da Casa), corria o mês de Outubro de 1888. Em contextos e por razões que não importam aqui explorar, acabou então todo o conjunto documental por ser oferecido a Ernesto do Canto, o que implicou o retornar da documentação aos Açores e à única linha sobrevivente dos 3 filhos administradores de morgadios de Pero Anes do Canto, a saber, a linha de Francisco do Canto de quem Ernesto do Canto era descendente 2) .

Assim, é no espólio dos fundamentos desta Casa Canto, instituída pelo conhecido vimaranense e povoador de 3ª vaga da Terceira, o 1º provedor das armadas das ilhas, que vamos encontrar os ecos mais antigos da história do lugar em que nos encontramos.
Em 1482, 8 de Junho, Garcia Álvares Farelães, escudeiro e ouvidor, e Álvaro Lopes, escudeiro e almoxarife da Praia, concediam terra em sesmaria a dois irmãos: João e Pero (ou Pedro) Afonso das Cunhas.

1 Jorge Pamplona Forjaz - "O Solar dos Remédios-Canto e Castro: história e genealogia". Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira. Vol.XXXVI (1987) 106. Ver, também, do mesmo autor - A correspondência para o Dr. Eduardo Abreu: do Ultimato à Assembleia Nacional Constituinte (1890-1911)- Lisboa: Academia Portuguesa de História, 2002.

2 Rute Dias Gregório- Documentos do Fundo Ernesto do Canto: o Tombo de Pero Anes do Canto. Ponta Delgada: s.n., 2003, p.308 e ss. Sep. de Actas do Colóquio "Ernesto do Canto: retratos do homem e do tempo".


* Aqui

(continua)

Também, já nos referimos à Professora Rute Dias Gregório aqui.

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