terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Há 72 anos (2)

Construções urbanas

Conveniência do seu facies regional; materiais de construção; sua salubridade.

(continuação)

Por: J. Soares de Lacerda.

1º - Educando, preparando e especializando, com paciência e perseverança os futuros lavrantes de pedra açoriana e criando entre eles umas categorias de artífices como foram organizadas em tempos passados, mesmo muito longínquos sob a direcção dos municípios.
Urge aproveitar os poucos elementos que restam do passado para este ressurgimento.
Em cada circunscrição industrial deveria organizar-se uma inscrição gratuita de todos os indivíduos que se desejassem dedicar à arte da construção, os quais deveriam ser agrupados por conselhos, estes por freguesias e estas por tantas companhias quantas as necessárias a atenderem às condições construtivas do meio.
Cada companhia deve ter o seu mestre, contramestre, oficiais, ajudantes e cabouqueiros.
Para acesso a cada categoria, devem fazer os candidatos um exame de provas práticas, perfeitamente gratuito, em que devem ser peritos um delegado idóneo do director da circunscrição, um membro da junta de freguesia, como delegado do Município e o mestre da companhia a que o candidato pertença e sob cujas ordens tenha servido.
Por estas disposições se impedirá a existência de construtores inconscientes e ignorantes da sua especialização.
Não devem ser mestres, contra mestres e oficiais, aqueles que pelo seu saber, aptidões, conhecimentos e diligencia, não ofereçam sérias garantias na execução dos trabalhos que mais forem confiados tanto sob o ponto de vista da estética, como de salubridade, devendo como condição principal cingir-se aos materiais da região.
Tal medida tem um valor incalculável tanto sob o ponto de vista económico como social.
Nos Açores não se teria sentido tão atrozmente a crise de desemprego, se a construção se tivesse limitado ao emprego do basalto próprio de preferência ao caduco cimento.
Os trabalhos de lavoura do basalto levariam mais tempo sem encargo para o proprietário sobre o preço de custo de custo do cimento, resultando numa economia efectiva presente e futura aliada aquele cunho regional que seria útil criar nos Açores visto que a casa deve dar sempre uma ideia do seu dono. Este tem a sua personalidade feita: porque a não tem aquela?
Perguntar-me-ão: onde encontrar mestres para criar esse corpo de futuros e exímios canteiros construtores das nossas casas bem açorianas com o basalto apropriado?
Muitas obras tenho visto levadas a cabo com inexcedível esmero por habilíssimos canteiros guiados pelo abalizado lavrante Manuel de Macedo Bettencourt, das Lajes do Pico.
Entres os lavrantes encontram-se José de Melo, José Dutra e tantos outros.
Por que se não contratam essas elites para as construções das principais obras a fazer em todas as ilhas, afim de com eles irem aprendendo os futuros canteiros de cada ilha?
Sob o ponto de vista social, os milhares de contos gastos no cimento ficariam no nosso meio nas mãos de muitos homens, dos novos canteiros, enriquecendo a região. A crise da falta de trabalho atenuar-se-ia imenso.

(Continua)

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