domingo, 26 de dezembro de 2010

Marcas dos tanoeiros de Angra (1705-1707)


Por: Francisco dos Reis Maduro-Dias*

Num interessantíssimo trabalho intitulado “Industrias Terceirenses de Carácter Artístico e sua Valorização”, publicado em 1955 no Vol. XII do Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, refere o Dr. Luís da Silva ribeiro, a pp,30, que dezoito tanoeiros fizeram registar na Câmara as suas marcas no ano de 1705.

São essas marcas que hoje se trazem aqui à estampa, recolhidas no Livro nº 5 do Tombo da Câmara de Angra, existente na Biblioteca Pública e Arquivo de Angra do Heroísmo, a fls. 67 a 68v.


Trata-se de ferros de marcar a fogo como ainda é de uso e foram estampadas a negro, aproveitando em parte o próprio negro do fumo. Estão em tamanho real, e algumas vincaram um pouco o papel, sendo todas precedidas de uma fórmula mais ou menos idêntica pelo que apenas se transcreve a primeira:

“Em os quinze dias do mês de Julho de mil settecentos e sinco nesta Cidade de Angra na casa da Câmara della perante mim pareseu Manoel Nunes official de tanoeyro e por elle foi dito que em cumprimento do Capitulo de Correyção vinha rezistar a sua marca de que he de usar em pipas e vasilhas que fizer a qual he a que abayxo segue e para cinstar fiz termo Vicente Serrão e Castro escrivão da Câmara de Angra.”

Encontrámos apenas dezassete marcas, uma delas incompleta em virtude do papel ter sido aparado pelos trabalhos de encadernação realizados neste século e estendem-se no tempo entre Julho de 1705 e 1707.


Pipas, barris e outro vasilhame eram, como se sabe, contentores essenciais ao tempo, compartilhando com as caixas de madeira e as vasilhas de barro a nobre função de guardar e não apenas vinho mas tudo ou quase tudo, e numa época em que os processos de medir e quantificar ainda não estavam tão apurados como hoje, necessário se tornava poder responsabilizar o fabricante ou garantir a sua idoneidade. (Havia quem, põe exemplo, metesse mais para dentro os fundos deixando as aduelas do mesmo tamanho, o que fazia com que o barril ficasse com menos capacidade, de um modo muito difícil de notar). Quem foram? Onde viviam? Cruzar esta determinação com outras do tempo e com a produção de vinho da Terceira e das “Ilhas de baixo) (sempre presentes nas posturas municipais da época) são, entre outras, questões interessantes que ficam, por agora, por responder.





Tanoeiros que apareceram a registarem as suas marcas perante o escrivão da Câmara de Angra:

Manoel Nunes, 15 de Julho de 1705
Manoel Dutra, 18 de Julho de 1705
Balthezar Cardoso, 28 de Julho de 1705
Manoel Gonçalves, 19 de Julho de 1705
Amaro Silveira, 7 de Novembro de 1705
João Toste, 9 de Novembro de 1705
Matheus Cardoso, 9 de Novembro de 1705
Miguel da Costa, 9 de Novembro de 1705
António de Souza, 11 de Novembro de 1705
Mathias Pereira, 13 de Novembro de 1705
Miguel Pereira, 13 de Novembro de 1705
Miguel Vieira, 13 de Novembro de 1705
Manoel Francisco, 13 de Novembro 1705
Francisco Moniz, 20 de Abril de 1706
Joseph Pereira, 20 de Abril de 1706
Manoel Roiz Rebello, 10 de Maio de 1707
Francisco Gomes, 2 de Maio de 1707

*Director do GZCAH,
Técnico Superior Principal do Museu de Angra.
Presidente do I.H.I.T.
Confrade Irmão da C.V.V.B.

In Revista Verdelho- Boletim da Confraria do Vinho Verdelho dos Biscoitos

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