sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Falando de Vinho e de Saúde

Por: Jack Masquelier


O avermelhado da folhagem no Outono cria um dos mais belos espectáculos que a natureza nos oferece. Quando, no Quebec, milhares de aceres se vestem de púrpura no espaço de alguns dias, o visitante fica fascinado por esse inesperado chamejar que surge de um oceano de verdura.

Desde remotos tempos, os estudiosos interrogam-se sobre o mecanismo deste fenómeno. É bom sublinhar que o tom vermelho produz-se nas folhas prestes a morrer. Elas são, deste modo, incapazes de estar na base de sínteses de tal envergadura. A explicação mais simples, mas infelizmente falsa, sugere que a clorofila escondida até então um pigmento vermelho já presente e que vem ao de cima logo que o verde desaparece. Hipótese errónea, porque, se se dissolver pela benzina a clorofila das folhas de Outono ainda verdes, nenhum tom avermelhado se revela. Na realidade, há nas folhas um pormenor incolor ou cromogéne que, no momento de morrer, se tingem de cor sob o efeito das enzimas que se libertam nessa altura.

Assim, nada de síntese grandiosa, mas antes uma transformação programada que exige tão somente um mínimo de carga de energia. Compreende-se que a cor vermelha outonal não diz só respeito a todas as espécies vegetais, mas apenas àquelas que possuem o cromogéne. A vinha é uma dentre elas; e esta propriedade vai reflectir-se de uma maneira primordial sobre as qualidades higiénicas do vinho.

UMA QUÍMICA SIMPLES PELOS O.P.C.

Os pólifenóis, é um nome dado aos cromogénes  cuja presença eu descobri no vinho há quarente anos e que lhe conferem espantosas propriedades medicinais. Este nome complicado, muitas vezes reduzido à abreviatura O.P.C. merece uma explicação a fim de se compreender o elo que liga estas substâncias ao precursor do avermelhado foliar.

Uma experiência muito simples vai levar ao resultado; a uma solução aquosa de O.P.C., juntemos 20p.100de ácido mineral forte e levemos essa mistura a banho-maria. Em apenas alguns minutos, aparece uma intensa coloração vermelha. Assim se reproduz, in vitro, por meios energéticos, o que se passa naturalmente na folha outonal. A análise mostra que o corante obtido é um pigmento muito banal do reino vegetal, o cianidol, que está presente, por exemplo, nas rosas vermelhas. O precursor é, pois, um procianidol. Porquê “ologomére”? Porque a molécula deste precursor resulta da união de um pequeno número (oligos, em grego) de unidades de base: de 2 a 5 em geral. Para além de 5, entra-se no mundo dos taninos condensados, constituídos por polimeres.

O JOGO DE CONSTRUÇÃO

Existem poucas fábricas tão perfeitas como a célula vegetal. Por necessidade, ela renuncia aos processos brutais da síntese industrial e põe em prática uma química muito delicada. Da sua actividade silenciosa saem, no entanto, moléculas por vezes tão complexas que o laboratório evita reproduzi-las. Os O.P.C. são disso um exemplo. O material de base consiste em unidades todas idênticas, as catequinas são os tijolos do pedreiro vegetal. Elas não existem senão com vista a edificar O.P.C. e taninos – os muros e as casas da nossa alegoria. Tal como num estaleiro humano, tijolos em excesso ficam espalhados à volta de edifício que se acaba.

As catequinas não se transformam se transformam directamente em cianidina, visto serem desprovidas de possibilidades cromogéneas, as quais não surgem senão quando 2 catequinas pelo menos se unem a um polifenol – como um jogo de construção, a missão das peças mais simples consiste em fundir-se na complexidade. O “comportamento O.P.C.” quer na folha outonal, quer no tubo de ensaio, exige em primeiro lugar a junção de unidades de base e em seguida, a ruptura do elo que as unia. O jogo de construção do O.P.C. tem esta particularidade. O puzzle só serve uma vez. A sua demolição produz um material novo, um pigmento vermelho que parece não ter outra utilidade senão a de emprestar beleza às florestas pouco antes do seu sono de inverno. 

Continua

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