terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A TANOARIA NOS BISCOITOS

- Mestre Eugénio Pereira Simas

Prosseguindo a ronda que se vem fazendo nesta freguesia, junto de oficiais de mesteres ligados à vitivinicultura, desta vez, abordámos mestre Eugénio Simas, de 57 anos, tanoeiro com mais de 20 anos de experiência, nado nos Biscoitos e um dos poucos profissionais da arte, actualmente a tempo inteiro, em actividade na ilha Terceira.

Dedica-se, também, ao artesanato destes utensílios em miniatura, usando madeiras endémicas como o cedro do mato. Colaborou na Mostra de Artesanato, integrada no programa da VII Festa da Vinha e do Vinho dos Biscoitos /98.

Eugénio Simas declarou-nos que aprendeu este ofício com o tanoeiro mestre Francisco Bento, e valeu-lhe os conhecimentos de carpintaria adquiridos antes desta lida.

Quanto a profissionais de tanoaria, para além do seu mestre já citado, lembra-se de nomes como: Manuel da “Mariquinhas”, Manuel Bento, José Bento, João de Deus, Manuel da Silva, Tio Mateus da Canada do Caldeira, António Nordeste, “Marogotão” (pai do Mestre Eduardo), Manuel Simões Martins (Mateus), Manuel Lucas, Daniel Cantoneiro, Manuel São Miguel, Joaquim Simas, Martins da Salga, Machadinho, Juventino Leal, Tarquínio Leal, estes os que trabalharam nos Biscoitos.

Ano de 1953 - Os Mestres tanoeiros Francisco Bento e Tarquínio Leal na adega da Casa Agrícola Brum


Os instrumentos ou ferramentas de trabalho mãos empregues; “castalho” (para dobrar as aduelas); “suta” (medida para fazer a vasilha com o número de litros pretendidos), “jabradeira” (para fazer as cabeças das aduelas =jabre, cavidade onde recebe o fundo da vasilha, fundo que geralmente tem 4ª 5 tábuas), compasso; banco de tanoeiro; serra de volta; enxó com curvatura; rebote; “boqueché”; graminho; marreta, punção; talhadeira; malho; raiva e plaina raspadeira. 

As obras geralmente são Dornas (adornas na gíria popular); “tinotes ; esborradeiras; selhas redondas; canecas; funis; potes; jarros; gamotes; barris; pipas e tonéis.

As madeiras mais utilizadas nos cascos: vinhático, carvalho e castanho.

 O barril é, no entanto, aqui, a peças mais comum, para o transporte do vinho. A pipa tinha como medida de capacidade, antigamente (séc. XVII), 550 litros. Hoje é de 440 litros.

O pote (caneco) é geralmente aferido a 11 litros nos Biscoitos. Em Lisboa correspondia a 12 litros.

A arte da tanoaria na Terceira é bastante antiga. Segundo Luís da Silva Ribeiro. Por exemplo, em 1705 existiam pelo menos dezoito tanoeiros, que fizeram registar na Câmara de Angra as suas marcas, e pelo seu regimento e respectivas taxas em 1788 se constata que fabricavam tonéis, pipas, baldes, funis, esborradeiras, selhas, dornas e canecos.

Os tonéis eram as vasilhas de grande capacidade que se instalavam de forma permanente nas adegas dos maiores produtores e a sua capacidade nunca seria inferior a 2.500 litros, chegando a exceder os 600 hectolitros. O barril vai de 50 a 100 litros.

In Revista da Confraria do Vinho Verdelho dos Biscoitos - Ilha Terceira – Açores - Ano III N.º 3 1998

“Sinalização para venda de vinhos e aguardente” aqui

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